Levaram apenas 38 anos mas, finalmente, após diversos formatos, várias narrativas e muitas gerações de consoles, a lenda de Zelda está sendo contada pela própria princesa, descendente da Deusa!
Apesar de ser o que conhecemos na área como “personagem-título”, a princesa mais conhecida do mundo dos games – curiosamente não podemos dizer o mesmo sobre princesa da Nintendo pois a princesa Peach é forte concorrente – ganhou seu primeiro título como personagem jogável e protagonista de seu mais recente título: The Legend of Zelda – Echoes of The Wisdom [A Lenda de Zelda – Ecos de Sabedoria]. Para além do mero ineditismo conforme citado, contamos ainda com dois outros pontos fora da curva, com o estilo chibi característico da nova abordagem do gênero isométrico (experimentada em 2019 com o remake de Link’s Awakening para Nintendo Switch) e a liberdade em um vasto “mundo aberto guiado”.
Romper paradigmas não é novidade quando tratamos dessa franquia em específico, afinal, o que é a direção de arte em The Legend of Zelda: Wind Waker, com o excêntrico visual cel shading em uma geração que buscava realismo, ou a liberdade de total descoberta com o mundo apresentado em The Legend of Zelda: Breath of the Wild. Não podemos nos esquecer da narrativa sombria em Twilight Princess ou as escolhas macabras de Majora’s Mask.
O que esperar do novo jogo?
Em Echoes of The Wisdom temos uma nova maneira de jogar e pensar o mundo ao redor, não apenas com a nova personagem mas com as novas mecânicas instauradas para que funcione de forma similar ao já convencional formato de exploração característico nos jogos da série (explorar cavernas, utilizar elementos do cenário para resolução de quebra-cabeças e etc.): Zelda utiliza um cetro ao invés da espada de Link e tem mecânicas de invocações para manipular o mundo ao redor. Com a ajuda de Tri, um antigo espírito adormecido do mundo de Hyrule simbolizado por uma bola de energia dourada, Zelda ganha a habilidade de memorizar itens, animais e inimigos para invocá-los posteriormente, ao custo da energia de Tri (representada por triângulos que o seguem), sendo esses, os ecos citados no título do jogo.
Na história, esses poderes surgem após uma força misterioso criar fendas dimensionais por toda Hyrule, fazendo pessoas desaparecerem. No processo, o próprio Link é engolido enquanto tentava salvar a princesa de Hyrule, junto de outras figuras importantes do reino. Ao mesmo tempo, monstros começam a sair destes buracos, aterrorizando os sobreviventes.
A partir daí, o jogo segue o padrão que você já deve conhecer, com algumas reviravoltas e descobertas como visitar regiões diferentes do mapa para fechar as fendas, encontrar pontos de viagem rápida que auxiliam no desbloqueio do mapa, as clássicas masmorras em templos e cavernas, com cenários de luta, puzzles e chefes (que estão primorosamente bem planejados e geram grandes momentos de brilhantismo aos jogadores).
A grande diferença de Echoes of Wisdom para os títulos anteriores está justamente na maneira como se interage com esse cenário. É a tal mudança óbvia e simples que altera completamente as estruturas de um jogo já conhecido. Bebendo da fonte óbvia, Link’s Awakening, e adotando elementos de Tears of The Kingdom, a forma como se pensa suas invocações/seus ecos, os itens em cada cenário e a astúcia dos jogadores ao conectar ambas as coisas e resolver de forma simples algo que, anteriormente parecia tão complexa, Echoes of The Wisdom parece uma releitura adaptada ao formado tabletop [jogo de tabuleiro] do premiado Tears of The Kingdom.
A “inspiração” é tão grande que os menus, a estrutura de missões principais e paralelas, os atalhos de jogabilidade e alguns métodos de revelação do mapa são nitidamente similares (isso para não dizer iguais em alguns desses exemplos).
Elementos de Gameplay
No formato de jogo antigo, os quebra-cabeças e desafios de masmorras (exploração e confronto de chefes) tinham algo entre uma ou duas resoluções possíveis, scriptadas de forma que cada jogador resolve da forma A ou B, seguindo sua percepção ou intuição.
Agora, porém, posso afirmar categoricamente que a liberdade concedida ao jogador é tão louvável que, durante a escrita dessa review, conversei com outros seis jogadores acerca de diferentes chefes e métodos para resolver um quebra-cabeça x ou y e, salvo duas exceções, cada um me respondeu com resoluções diferentes da pensada por mim, ainda levando em conta que o processo de lógica e descoberta varia de jogador por jogador, com grande influência das liberdades possibilitadas pelo mapa mais aberto.
E apesar dessa liberdade, o jogo segue um dinamismo linear cuja imposição é sentida mas não invade a liberdade apresentada antes. Confuso mas aqui vai um exemplo: em dado momento, precisamos contornar uma montanha, aparentemente com um único caminho por dentro de uma masmorra/caverna. Porém, caso você tenha feito uma caverna opcional localizada metros abaixo desse ponto, você tem disponível a invocação de uma aranha, cuja teia está disponível para ser escalada pela Zelda e, dessa forma, contornamos a montanha ao passar por um longo corredor de um quadrado. Quebramos o jogo ou fomos guiados inconscientemente a explorar a nova visão do jogo?
De forma criativa e assustadora, a Nintendo conseguiu pensar elementos de resolução 3D em um jogo 2.5D de forma intuitiva, sem tutoriais ininterruptos e cutscenes sem fim. Conseguem adaptar o que foi feito nos títulos recém aclamados enquanto mantém a essência dos antigos jogos. É maravilhoso e quase um milagre!
Vale salientar, entre tantos pontos positivos e surpreendentes, que o jogo ainda está 100% localizado no português do Brasil. Após décadas, finalmente temos um título de Zelda com menus e legendas totalmente traduzidos para o PT-BR, com uma excelente localização.
Considerações finais
Não há maneira melhor de finalizar o ciclo de lançamentos The Legend of Zelda no Nintendo Switch do que com Echoes of The Wisdom, obra que reúne com maestria os elementos de destaque dos lançamentos presentes no console. O estilo artístico de Link’s Awakening, a liberdade de Breath of the Wild e as possibilidades multifacetadas de Tears of The Kingdom, cada um desses elementos se fundem em perfeita profusão para alicerçar um dos concorrentes a GOTY desse ano de 2024.
The Legend of Zelda: Echoes of The Wisdom foi lançado no último dia 26 de setembro exclusivamente para Nintendo Switch.
Echoes of The Wisdom é brilhante ao retratar Zelda
Prós
+ Gameplay Intuitiva + Múltiplas possibilidades na resolução de puzzles + Localização fenomenal para PT-BRContra
- Falta de originalidade no HUD e UI ao absorver dos jogos anteriores - Consideráveis quedas de FPS em áreas mais abertas sem motivo aparente- The Legend of Zelda: Echoes of the Wisdom9
Qual a sua opinião?