Nosferatu de Robert Eggers- diretor cometeu erro fatal para a experiência de um ótimo filme.
Estreando no cinema no dia 25 de dezembro, Nosferatu de Robert Eggers, é um remake do centenário clássico alemão, surpreendeu alcançando uma bilheteria de mais de US$ 40,3 milhões em seu primeiro fim de semana nos cinemas estadunidenses.
Dirigido por Robert Eggers (A Bruxa) e protagonizado por Bill Skarsgård (O Corvo), o longa já possuía um bom prenúncio pelos sucessos anteriores do diretor no gênero terror e pelos bons desempenhos de seu protagonista como o palhaço Pennywise. Além disso, as criticas preliminares já davam conta de que um bom filme estava chegando.
Apesar de tudo isso, há um problema central no remake e é justamente seu protagonista Nosferatu: o Conde Orlok.
Conde Orlok
A figura do Conde Orlok se tornou uma das mais características do cinema desde que foi lançado em 1922. A interpretação do ator alemão Max Schreck que apresentou uma criatura vampírica parecida com um roedor que traz caos e morte a uma pequena aldeia alemã. A cena final do longa original é emblemática, quando o conde percebe que foi enganado por sua vítima e que o sol está nascendo, ou seja, que ele está prestes a morrer, é deslumbrante e deixou uma marca duradoura no público ao longo de mais de um século.
O filme Nosferatu de Robert Eggers não é o primeiro remake da história do vampiro alemão, pois em 1979 foi lançado Nosferatu, o Vampiro da Noite, dirigido pelo ator Werner Herzog e se tornou um sucesso de crítica.
Herzog se distanciou da obra original até mesmo no desfecho adequando à cultura cinematográfica do final dos anos 1970, que favoreceu finais pessimistas e uma vontade de mostrar mais violência e derramamento de sangue do que antes. Mas a única coisa que ele não mudou foi o visual de Orlok. Agora interpretado por Klaus Kinski, o vampiro parece praticamente o mesmo: cabeça careca, unhas e dentes longos e pele pálida e sem pelos.
O visual de Orlok é o que torna Nosferatu único; caso contrário, ele é apenas mais uma imitação de Drácula, menos ameaçadora, menos imponente e menos memorável do que todas as outras. Herzog sabia que o que funcionava antes poderia funcionar novamente; ele mudou o enredo, que havia ficado datado, e a linguagem visual da história, que precisava de uma atualização moderna.
Nosferatu de Robert Eggers não tem mordida
Robert Eggers errou exatamente onde Werner Herzog acertou, ele mudou a caracterização de Orlok, retirando justamente aquilo que definia e dava identidade para seu protaginista. Em entrevista para a Variety, o diretor explicou suas motivações para as mudanças:
“A questão então se tornou: ‘Como é um nobre morto da Transilvânia?’ Isso significa este traje húngaro complexo com mangas muito compridas, sapatos estranhos de salto alto e um chapéu peludo. Também significa bigode. Não importa o que aconteça, não há como esse cara não ter bigode. Tente encontrar uma pessoa da Transilvânia com idade avançada que consiga deixar crescer um bigode que não tenha bigode. Faz parte da cultura. Se você não quer incomodar o Google, pense em Vlad, o Empalador. Até Bram Stoker teve o bom senso de dar bigode a Drácula no livro.”
A motivação é válida, porém acabou com a aura assustadora do personagem. É definitivamente um grande problema quando seu vilão principal que é um vampiro não se mostra nem um pouco intimidador. A caracterização que contou com um bigode que parecia ter saído direto de uma festa disco dos anos 1970 e olhos azuis que o fazem lembrar um Caminhante Branco de Game of Thrones, este Orlok parece desdentado e sem personalidade. Podendo ser qualquer monstro do cinema, tirando assim tudo aquilo que torna Nosferatu tão especial.
O visual atualizado também deixa muito a desejar por parecer artificial demias. As camadas de maquiagens e próteses tornaram Skarsgård. Não faz sentido contratar um ator já celebre no gênero se você não permite que ele nos mostre do que ele é capaz. Uma pena, pois o ator deu sua interpretação única para Pennywise mostrando um palhaço efetivamente assustador, mesmo diferente da versão original de Tim Curry na minissérie da ABC de 1990, ele manteve a forma sinistra e maligna que o personagem exigia.
Infelizmente com Conde Orlok, Skarsgård não conseguiu o mesmo feito. O personagem aparece sempre envolto em sombras ou fumaça de chaminés próximas, ele se parece menos com um personagem real e mais como um efeito especial que foi desajeitadamente montado.
Isso fica mais claro ainda na cena final do filme, que tem Orlok, agora totalmente exposto e morto devido ao sol da manhã, deitado em cima de uma Ellen moribunda. Eggers finalmente nos mostra Orlok em toda a sua glória de cadáver podre, mas o efeito é silenciado porque você tem a sensação de que o que você está vendo não é uma criatura. Em vez disso, é apenas uma pilha de maquiagem, borracha e outros materiais. Totalmente diferente da cena impactante que o diretor F. W. Murnau nos trouxe há mais de cem anos.
É uma pena que Nosferatu de Robert Eggers não tenha conseguido exprimir a única coisa que tornou Orlok tão memorável todos esses anos e que o fez ser tão aterrorizante até hoje.
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