O Problema dos Três Corpos não Tem Alma
O Problema dos Três Corpos não Tem Alma – A Série da Netflix aponta falta de estilo próprio na aguardada série de ficção científica, apesar de fidelidade aos livros de Liu CixinA série 3 Body Problem, nova aposta da Netflix baseada na aclamada trilogia The Remembrance of Earth’s Past de Liu Cixin, chegou com a promessa de revolucionar a ficção científica na TV. Desenvolvida por David Benioff e D.B. Weiss (de Game of Thrones) e Alexander Woo (The Terror: Infamy), a produção acerta na adaptação fiel da complexa trama e na construção de momentos dramáticos intensos. No entanto, falha onde mais importa: na criação de uma identidade visual única.
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Comparada ao reboot de Battlestar Galactica (2004), que reinventou o gênero com um estilo “naturalista” — câmeras tremidas, iluminação crua e efeitos visuais integrados à narrativa —, 3 Body Problem parece deslocada em sua própria grandiosidade. As sequências no presente, repletas de CGI impecável, carecem de peso emocional, enquanto as cenas históricas na China da Revolução Cultural brilham justamente pela autenticidade crua que o resto da série negligencia.
Trailer e Sinopse
Baseado na trilogia de livros com o mesmo título, “O Problema dos 3 Corpos”, do autor Cixin Liu – vencedor dos prêmios Yinhe, Hugo e Locus – a série produzida pela Netflix, com os criadores de Game of Thrones, se passa na China em meio à sua Revolução Cultural, ao final dos anos de 1960. Com um grupo de astrofísicos, militares e engenheiros que decidem realizar um projeto para se comunicar com possíveis vidas fora da Terra, a decisão tomada por eles repercute na humanidade após cinquenta anos, ameaçando-a por forças desconhecidas. Agora, eles terão que sobreviver a uma visita inesperada enquanto cientistas do tempo presente tentam desvendar os segredos e mistérios do projeto realizado anos atrás.
O Paradoxo da Adaptação: Fidelidade vs. Criatividade
A trama acompanha duas linhas temporais: os anos 1960/70, onde a cientista Ye Wenjie (Zine Tseng) inicia um contato catastrófico com alienígenas, e o presente, onde um grupo de cientistas enfrenta uma conspiração interestelar. Enquanto os flashbacks são visualmente ricos — mostrando florestas desmatadas, arquitetura soviética decadente e a tensão política da época —, o presente é dominado por cenas de videogame alienígena que lembram cutscenes de um jogo genérico.
As sequências no jogo de realidade virtual, embora essenciais para explicar a ciência da trama, são excessivamente estilizadas, com paisagens digitais que parecem saídas de Foundation ou Game of Thrones, mas sem a mesma conexão narrativa. Para piorar, o contraste entre o realismo das cenas históricas e a artificialidade do presente reforça a sensação de que a série não encontrou seu próprio estilo — oscilando entre o documental e o espetáculo vazio.
O Legado de Game of Thrones: Narrativa Corporativa vs. Visão Artística
Benioff e Weiss, conhecidos por transformarem Game of Thrones em um fenômeno global, repetem aqui a fórmula de condensar livros densos em dramas humanos íntimos. Porém, enquanto Thrones equilibrava intriga política com cenas de batalha épicas, O Problema dos Três Corpos tropeça na frieza emocional. Os “Cinco de Oxford”, núcleo central da trama, têm química irregular, e as subtramas românticas parecem adições obrigatórias para “humanizar” a ciência.
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A série também herda um problema da TV contemporânea: o estilo de prestígio genérico. Com paletas de cores escuras, efeitos visuais polidos e referências a clássicos do gênero, a produção parece mais interessada em atender a algoritmos de streaming do que em arriscar uma identidade própria. Como criticou o autor, é uma obra “processada, não criada” — competente tecnicamente, mas sem ousadia.
O Que Salva (e Condena) a Série
- Zine Tseng rouba a cena como a jovem Ye Wenjie, transmitindo dor e determinação em cada quadro.
- A trama histórica é uma aula de storytelling, misturando trauma pessoal e dilemas éticos.
- A sequência do Canal do Panamá, grotesca e absurdamente criativa, mostra o potencial não explorado da série.
No entanto, os alienígenas do show, incapazes de mentir ou criar ficção, ironicamente refletem o maior defeito da produção: domínio técnico sem imaginação. Enquanto Battlestar Galactica questionava o que nos torna humanos, O Problema dos Três Corpos parece contente em ser apenas mais um produto da era do streaming.
Veredito Final: Uma Jornada Espacial Sem Alma
O Problema dos Três Corpos não é um fracasso. É uma adaptação digna, com momentos de brilho e performances sólidas. Mas, em uma era onde séries como Shōgun e The Bear elevam a arte televisiva com visuais ousados, a falta de coragem criativa da Netflix é evidente. Para uma história sobre civilizações em colapso e a essência da humanidade, a série peca justamente no que deveria ser seu trunfo: fazer-nos sentir algo além de admiração passageira por seus efeitos.
Assistir a 3 Body Problem é como jogar seu videogame favorito em modo fácil: divertido, bonito, mas sem desafio ou surpresa. E, no universo competitivo do sci-fi, isso pode ser um problema maior que três corpos.

Crítica - O Problema dos Três Corpos
Resumo
O Problema dos Três Corpos não é um fracasso. É uma adaptação digna, com momentos de brilho e performances sólidas. Mas, em uma era onde séries como Shōgun e The Bear elevam a arte televisiva com visuais ousados, a falta de coragem criativa da Netflix é evidente. Para uma história sobre civilizações em colapso e a essência da humanidade, a série peca justamente no que deveria ser seu trunfo: fazer-nos sentir algo além de admiração passageira por seus efeitos.
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