Qual o Problema com Bleach?
Qual o Problema com Bleach? – A década de 2000 consagrou o “Big 3” dos animes: Bleach, Naruto e One Piece. Mas enquanto Naruto Uzumaki e Monkey D. Luffy se tornaram ícones globais, Ichigo Kurosaki e Bleach nunca alcançaram o mesmo nível de relevância cultural. A pergunta que divide fãs há anos é: por quê? A resposta pode estar no próprio protagonista.

Ao que parece fãs de animes reclamam muito de protagonistas chorão, mas escodem uma verdadeiro tombo de amores por eles. Apesar de muitos afirmarem de pés juntos que odeiam personagem do tipo falastrão, sem noção e chorões como Naruto e Luffy, os números não mentem. Bleach não chegou na mesma fama, números e relevância cultural cujas duas obras chegaram.
ICHIGO KUROSAKI: O HERÓI BDS (E ISSO É UM PROBLEMA)
Ichigo é, desde o primeiro episódio, forte, corajoso e determinado. Ele derrota um Shinigami em seu encontro inicial, domina poderes sobrenaturais rapidamente e salva amigos sem hesitar, mostrando confiança e aquela personalidade de garoto mais popular da escola. Soa como um protagonista ideal, certo? Errado. Sua “perfeição” inicial é justamente o que o distancia do público. Enquanto Naruto era um underdog rejeitado, e Luffy um sonhador ingênuo e falho, Ichigo não precisou evoluir para se tornar um herói – ele já era um.

A falta de uma jornada transformativa clássica (como a de um “zero a herói”) rouba a identificação. Naruto precisou provar seu valor; Luffy erra constantemente e aprende na dor. Ichigo, porém, luta mais contra circunstâncias externas (inimigos, destino) do que contra suas próprias limitações. Quem torce por alguém que nunca parece vulnerável?
O SONHO (OU A FALTA DELE) QUE DEFINIU UMA GERAÇÃO
Protagonistas de shonen vivem em torno de um objetivo grandioso: Naruto queria ser Hokage para ser reconhecido; Luffy busca o One Piece para ser o Rei dos Piratas. E Ichigo? Seu motivador inicial é proteger os amigos – nobre, mas vago. Sem um propósito tangível, sua jornada parece reativa, não proativa. Ele é arrastado para conflitos (a Sociedade das Almas, Hueco Mundo), mas não há um sonho pessoal unificando a narrativa.
Enquanto Luffy e Naruto inspiravam com sua teimosia em perseguir ideais, Ichigo parecia apenas “apagar incêndios”. O resultado? Arcos episódicos memoráveis(como a saga Soul Society), mas uma trama central sem direção emocional.
A PERSONALIDADE “COOL” QUE NÃO CONQUISTA CORAÇÕES
Ichigo é o típico “bad boy” de coração nobre: cabelo colorido, jeito arredio, fala dura. O problema é que essa personalidade, embora estilosa, não cria laços afetivos com o público. Naruto era um outsider tagarela e emotivo; Luffy, um caótico otimista. Ichigo, por outro lado, é fechado e sério demais. Suas raras cenas de humor ou vulnerabilidade (como o luto pela mãe) são excelentes, mas pontuais.

O que funciona em mangás nem sempre funciona em animes. Enquanto a mídia impressa permite mergulhar em nuances internas, a TV exige carisma imediato – algo que Ichigo, em sua postura constante de “protetor sisudo”, não entregava.
O MERGULHO EM TEMAS ADULTOS: UM TIRO NO PÉ?
Bleach ousou explorar temas como morte, existencialismo e dualidade moral, mas Kubo Tite (o criador) não soube equilibrá-los com o apelo comercial. Enquanto Naruto e One Piece mantinham um tom acessível para todas as idades (mesmo em momentos sombrios), Bleach oscilava entre violência gráfica, diálogos filosóficos densos e um protagonista que personificava essa ambiguidade.
Ichigo, como símbolo dessa complexidade, acabou afastando o público mais jovem (que preferia a energia de Luffy) e não conquistou os adultos (que buscavam profundidade real, não apenas estilo).
O LEGADO: ICHIGO É VÍTIMA DE SEU PRÓPRIO UNIVERSO
Não é que Bleach seja ruim – sua influência na estética dos animes é inegável. Mas Ichigo, como protagonista, falhou em ser o elo entre a obra e o público. Enquanto Luffy e Naruto transcenderam suas histórias para se tornarem símbolos de resiliência e esperança, Ichigo ficou preso à sua própria aura de “solucionador de crises”.
Qual a sua opinião?