Morre o lendário diretor, David Lynch, aos 78 anos

Existem certas notícias que impactam e essa, sem dúvidas, é uma delas: um dos maiores nomes da história do audiovisual, David Lynch, nos deixou na manhã de hoje, aos 78 anos.

Carreira no Cinema

David Keith Lynch foi um diretor americano extremamente autoral, famoso pela abordagem mais radical, sombria e surrealista para sua época, inovando em fotografia e direção já nos seus primeiros – e renomados – trabalhos como o experimental Eraserhead (1977), sua primeira indicação ao Oscar ao realizar a primeira adaptação literária de sua carreira para as telonas com O Homem Elefante (1980), sua abordagem peculiar em Duna (1984), a curiosa abordagem com o noir e as femme fatales da época com seu Veludo Azul (1986) e seu trabalho mais reconhecido, o excelentíssimo Cidade dos Sonhos (2001).

Nascido em 20 de janeiro de 1946, em Montana, nos Estados Unidos, começou sua carreira fazendo curtas-metragens no final da década de 1960. Seu primeiro longa-metragem foi o já prestigiado e peculiar Eraserhead (1977).

A carreira de Lynch decolou em 1980 – com ‘O Homem Elefante’ e ‘Duna’, a versão de 1984 do clássico romance de ficção científica de Frank Herbert, e o thriller “noir” de 1986 ‘Veludo Azul’, estrelado por Kyle MacLachlan, Isabella Rossellini (agora novamente em alta por suas indicações com o longa ‘Conclave’), Dennis Hopper e Laura Dern (também em alta após vencer o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por ‘História de um Casamento’).

Em 2000, Lynch recebe um Oscar honorário pelo conjunto de sua obra. Ele também levou a Palma de Ouro em Cannes por “Coração Selvagem” em 1990 e foi indicado ao prêmio outras três vezes.

Séries de Televisão

Já ao final da década de 80, em 1989-1990, criou, dirigiu e participou da escrita de ‘Twin Peaks’, talvez sua magnum opus [tradução: obra-prima que é considerada o maior trabalho da carreira de uma pessoa], uma série que flutuava entre os gêneros policial, de mistério, ficção científica e terror sobrenatural.

A série teve duas temporadas com aclamação tanto da crítica quanto do público geral, mantendo um sólido 8,7 em análises até os dias de hoje e ganhou dois filmes, ‘Twin Peaks: Os Últimos Dias de Laura Palmer (1992)’ e ‘Twin Peaks: O Mistério (2014)’, posteriormente, com cenas estendidas e material exclusivo das gravações da série, remasterizados para os dias de hoje.

Música

David Lynch também colaborou com o material promocional do clipe ‘Dangerous’ de Michael Jackson.

David Lynch já participou de vários álbuns colaborativos, incluindo:

• Cellophane Memories: O terceiro álbum colaborativo de David Lynch e Chrystabell, lançado em 2024. O álbum conta com créditos póstumos do compositor Angelo Badalamenti.
• Polish Night Music: Álbum de estúdio colaborativo com Marek Zebrowski.
• Twin Peaks: Season Two Music And More: Álbum com Angelo Badalamenti.
• This Train: Álbum com Chrystabell.
• Dozen: Álbum com Frank Duncan e Mark Travis.
• Somewhere In The Nowhere: Álbum com Chrystabell.

David Lynch também já participou de outros projetos, como:

• Thought Gang com Thought Gang e Angelo Badalamenti
• Eraserhead Soundtrack
• The Classic Collection
• Wandering Home
• Good Wood
• Lit’l Song
• Ghost of Love b/w Imaginary Girl
• Good Day Today / I Know

Pintura

David Lynch foi um pintor antes de se tornar um diretor de cinema. Ele estudou em escolas de arte em Washington D.C. e Boston, e na Academia de Belas Artes da Pensilvânia.

Suas pinturas eram feitas a óleo e influenciadas pelas obras de Francis Bacon, frequentemente Lynch incorporava insetos em suas obras que eram ora expressionistas, ora surrealistas.Ele possuía um ateliê em Hollywood Hills, onde seus quadros ocupavam quase todo o espaço. As imagens, figuras toscas fazendo coisas bizarras assim como desenhos por terminar, dividem espaço com as inúmeras guimbas de cigarro no chão. E o que poucos sabem, é que na verdade foi com a pintura que David Lynch começou.

Formado na Pennsylvania Academy of Fine Arts, na Filadelfia, por volta de 1966-67, o diretor nunca deixou de trabalhar com pintura e relata ter adorado o tempo em que estudou na academia. Ele também relata, em entrevista para o New York Times, que adorava o clima sombrio da Filadélfia.

“O prédio era quase negro. A cidade inteira era coberta por um tipo de pátina de pó de carvão e um clima que era espetacular. Havia violência, medo, corrupção, insanidade, desespero, tristeza, tudo isso na atmosfera daquela cidade. Eu adorava as pessoas de lá. Todas essas coisas, do jeito que fosse, tudo isso foi minha maior influência.”

Comenta david sobre seu apartamento

Desde pequeno, Lynch sempre pintou e demonstrou interesse pela arte. Mudou de cidade inúmeras vezes por causa do trabalho do pai, que era pesquisador do Departamento de Agricultura. Aos 14 anos, em Alexandria, Virgínia, conheceu um artista plástico profissional que era amigo de seu pai, e que mais tarde se tornou o seu mentor.

“Quando descobri que adultos podiam fazer arte, passei a querer fazer somente isso.”

Tudo começou quando Lynch viu suas pinturas se mexerem sozinhas. A partir daí, trocou idéias com um amigo da faculdade, Bruce Samuelson, e decidiu comprar uma câmera (a mais barata que conseguiu encontrar). Em seus experimentos para criar uma pintura que se movesse, o Diretor acabou criando “Six Figures Getting Sick” (Seis Homens Adoecendo), trabalho que ganhou o prêmio de pintura experimental da escola na época. Ele criou uma tela em grande escala de resina, da qual se projetavam três impressões de sua própria cabeça. Sobre essa superfície esculpida, projetou uma sequencia repetida de um minuto, pintada à mão, animando seis cabeças em várias etapas de mal estar. Enquanto uma sirene uiva e os rostos se distorcem, seus estômagos se enchem de fluidos e este irrompe de suas bocas.

Alguns outros exemplos pouco conhecidos de seus quadros:

Seu falecimento

Lynch revelou em 2024 que havia sido diagnosticado com enfisema. A família anunciou sua morte em uma postagem no Facebook.

“Há um grande buraco no mundo agora que ele não está mais conosco. Mas, como ele diria, ‘Fique de olho no donut e não no buraco’.”

Anunciou a família via facebook

Lynch teve quatro casamentos e deixou quatro filhos, além de toda uma legião de admiradores, fãs e cineastas que o têm como inspiração, como eu que escrevo essa triste notícia junto de um dossiê em apreciação ao mestre David Lynch.

Finalizo esse artigo com uma citação do próprio diretor, onde ele responde porquê ama cinema e a experiência de fazer cinema:

Nem sempre sou bom com as palavras. Algumas pessoas são poetas e têm uma linda forma de se expressar com palavras. Mas o cinema é sua própria linguagem. E, com ele, você pode dizer tantas coisa, porque você tem tempo e sequências. Tem diálogo. Tem música. Tem efeitos sonoros. Tem tantas ferramentas. E então você pode expressar um sentimento e um pensamento que não poderiam ser transmitidos de nenhuma outra forma. É um meio mágico.

David Lynch.