Nos últimos anos, a indústria dos games tem visto uma onda crescente de remakes e remasters de títulos clássicos. Enquanto alguns relançamentos são aclamados por revitalizar experiências queridas, outros são criticados por parecerem apenas uma forma fácil de lucrar em cima da nostalgia dos jogadores. Mas será que o excesso dessas reedições está se tornando um problema para a criatividade e a inovação no mercado?

Para tentar responder essa pergunta, vamos analisar alguns exemplo de sucesso e de fracasso dentro destas práticas.
O sucesso: quando a reedição faz sentido
Alguns remakes e remasters demonstraram como a prática pode ser benéfica, adicionando melhorias significativas e reimaginando jogos antigos para uma nova geração. Alguns exemplos incluem:
Resident Evil 2: Remake
Resident Evil 2 Remake elevou o patamar do que um um game reformulado pode ser. A Capcom não se limitou a uma simples atualização gráfica – reconstruíram completamente o jogo do zero no RE Engine, transformando a câmera fixa original em uma perspectiva sobre o ombro moderna que trouxe imersão inédita. Os zumbis ganharam um sistema de dano realista, onde cada tiro causa ferimentos visíveis, e a delegacia de polícia foi redesenhada para explorar melhor o gameplay em 3D.
A iluminação dinâmica e os efeitos sonoros criaram uma atmosfera apreensiva, que superou até mesmo a versão original, provando que um remake pode não só preservar como superar o material de origem. O trabalho foi tão bem feito, que o título recebeu uma indicação ao Game of the Year (GOTY) de 2019.
The Legend of Zelda: Link’s Awakening (2019)
The Legend of Zelda: Link’s Awakening optou por uma abordagem mais conservadora, mas igualmente eficaz. O visual estilo “miniaturas de brinquedo” trouxe um charme único que diferenciou o jogo de qualquer outro título da franquia. Mas a Nintendo manteve respeitosamente o design de dungeons e a progressão do original, apenas refinando os controles para padrões modernos.
Um acerto particular foi a adição da Caverna dos Desafios, conteúdo inédito que expandia o jogo sem quebrar sua estrutura clássica. A trilha sonora orquestrada e os detalhes animados em cada cenário mostraram como até mesmo um jogo Game Boy pode ganhar nova vida, respeitando suas origens e adicionando um toque de modernidade.
Demon’s Souls (2020)
Demon’s Souls foi uma aula de como respeitar a visão original, enquanto se aproveita ao máximo a tecnologia atual. A Bluepoint manteve intactos os sistemas de combate e progressão que fizeram o jogo original revolucionário, concentrando-se em melhorias visuais e de performance.
Cada armadura ganhou detalhes meticulosos, com materiais que parecem reais, como o couro que enruga e o metal que reflete luz. Os efeitos de partícula e iluminação trouxeram nova profundidade aos ambientes góticos, enquanto o áudio 3D permitiu ouvir inimigos se aproximando pelo som. Foi um remake que honrou o passado enquanto abraçava o futuro.
Esses casos provam que, quando feitos com cuidado, remakes e remasters podem ser tão valiosos quanto jogos novos.
O fracasso: quando a nostalgia não basta
Por outro lado, algumas reedições falham em justificar sua existência, seja por falta de melhorias significativas ou por parecerem meras tentativas de monetizar o passado. Alguns exemplos questionáveis:
Grand Theft Auto: The Trilogy – Definitive Edition (2021)
Grand Theft Auto: The Trilogy – Definitive Edition mostrou como não fazer um remaster. A Grove Street Games aplicou filtros gráficos genéricos que muitas vezes estragavam a estilização original, criando personagens com rostos estranhamente lisos e ambientes com iluminação artificial.
Isso sem mencionar os incontáveis bugs – desde carros surgindo do nada, até missões quebrando por problemas de programação de IA. A remoção de músicas icônicas da trilha sonora e a falta de melhorias reais na jogabilidade deixaram claro que foi um projeto apressado para capitalizar em cima da nostalgia. Um trabalho porco no qual a Rockstar deveria se envergonhar de ter colocado seu nome.
Warcraft III: Reforged (2020)
Warcraft III: Reforged foi talvez a decepção mais dolorosa para os fãs de uma franquia. A Blizzard prometeu cutscenes completamente refeitas e uma campanha expandida, mas entregou basicamente o mesmo jogo com modelos 3D repaginados. E nem esse trabalho ficou bom, já que os personagens perderam toda a expressividade com o novo modelo de arte.
O editor de mapas, ferramenta que sustentou a comunidade por anos, foi simplificado e teve diversos de seus recursos removidos. O trabalho foi tão ruim, que até o servidor online do jogo ficou pior, perdendo todo o charme do original e apresentando problemas de quedas constantes. Foi um caso claro de promessas não cumpridas que mancharam um clássico e o nome de uma gigante do ramo.
MediEvil (2019)
O remake de MediEvil para PS4 exemplifica como uma abordagem excessivamente conservadora pode resultar em uma experiência defasada. A OtherOcean manteve fielmente a estrutura do jogo original de 1998 – incluindo seus problemas mais evidentes. Sim, a equipe cometeu o erro de preservar intactos os sistemas de câmera arcaicos e a jogabilidade travada do PS1, sem os ajustes necessários para padrões modernos.
Os controles imprecisos, a IA rudimentar dos inimigos e o design de níveis obsoleto – que já eram criticados na versão original – foram mantidos como “homenagem”, resultando em frustração para novos jogadores. O remake falhou justamente onde mais precisava inovar: na modernização da experiência de jogo.
Nostalgia vs. Inovação: um equilíbrio necessário
A discussão sobre remakes e remasters não é simples. Por um lado, eles permitem que novas gerações experimentem clássicos e que estúdios financiem projetos originais. Por outro, o excesso destas práticas pode indicar uma falta de riscos criativos, com publishers preferindo apostar no seguro em vez de inovar.
Podemos dizer que o mercado precisa de equilíbrio. Remakes e remasters devem existir para preservar e melhorar, não apenas para vender o mesmo produto de novo. Quando a indústria prioriza apenas o lucro rápido, a médio prazo, isso causa uma clara impressão de desleixo e falta de respeito aos consumidores.
Conclusão: qualidade acima de quantidade
Não há problema em relançar jogos antigos – desde que haja esforço real em revitalizá-los. O desafio para a indústria é saber quando um remake ou remaster é justificado e quando ele se torna apenas mais um produto esquecível em um mercado saturado.
Enquanto fãs, cabe a nós valorizar as reedições bem-feitas e cobrar mais originalidade quando necessário. Afinal, os clássicos merecem respeito, mas os games também precisam evoluir.
E você, acha que a indústria está exagerando nos remakes ou ainda há espaço para mais? Deixe sua opinião nos comentários!
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