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Quando os judeus retornarem a Sião
E um cometa rasgar o céu
E o Sagrado Império Romano se erguer,
Então você e eu devemos morrer.
Do mar eterno ele se levanta,
Criando exércitos em ambos os lados,
Voltando os homens contra seus irmãos
Até que o homem não mais exista.
Antes de nos mostrar que um homem podia voar com seu Superman, em 1978, Richard Donner convenceu as plateias do mundo todo que um adorável menininho podia ser aquele que traria o fim do mundo, em A Profecia, lançado 25 de junho de 1976.
Inspirado em passagens e profecias do Livro do Apocalipse, da Bíblia, o filme começa em Roma, Itália, às 06:00 da manhã, no dia 06 de junho, quando um homem, Robert Thorn chega a um hospital para ouvir, de coração partido, que o filho que sua esposa, Katherine, esperava morrera ao nascer, após respirar por um momento. Katherine ainda não sabe da morte do bebê, e Robert não sabe como lhe dar as notícias, com medo de que ela não seja capaz de suportá-las. O hospital, então, lhe oferece um subterfúgio: eles têm um novo bebê, que também acabara de nascer, e cuja mãe (uma indigente sem ninguém no mundo) morrera. Robert aceita então adotar a criança sem contar para Katherine que aquele não era o filho natural dos dois.
A vida dos Thorns vai cada vez melhor. Um diplomata, Robert acaba sendo apontado como embaixador dos EUA na Inglaterra, podendo mesmo ser considerado como futuro presidente de seu país. Seu filho, Damien, cresce muito bem e feliz.
Até seu quinto aniversário.
Em sua extravagante festa de aniversário, celebrada ao ar livre com centenas de convidados e até um parque particular, a babá de Damien se mata enforcada na frente de todos, dizendo, sorridente, “Olhe pra mim, Damien! É tudo por você!”. O momento, um dos mais chocantes do filme, é também um dos mais lembrados.
Esse evento, no entanto, é apenas o começo de uma série de mortes bizarras envolvendo aqueles se aproximam de Robert tentando alertá-lo para a identidade do filho que ele cria.
O gênero horror não é comum na filmografia de Richard Donner, e enquanto ele fez participações nas séries de televisão The Twilight Zone e Tales from the Crypt, A Profecia é o único trabalho dele que realmente pertence ao gênero. Mesmo assim, ele se tornou um de seus clássico mais populares.
A Profecia é um filme muito sinistro, especialmente para aqueles que foram criados na fé cristão, como eu fui (antes de crescer e me tornar um budista). A atmosfera do filme é enervante, e seu assunto é algo que muitos cristãos ainda acreditam que irá acontecer. Todos crescemos ouvindo histórias e mais histórias sobre o fim do mundo, então assistir ao filme de Donner enquanto criança parecia realmente uma profecia do que estaria por vir. Foi muito perturbador, e aquele sentimento permaneceu comigo durante toda a minha vida.
O assunto em si não mais me preocupa, pois não acredito na história que ele conta (o homem não precisa de ajuda para se auto-destruir, afinal), mas o filme permanece muito eficiente e enervante, e extremamente bem-feito. Sua maior qualidade é o seu realismo, mesmo nos momentos mais absurdos, que poderiam ser risíveis nas mãos de outro cineasta. Cenas como a da decapitação e do empalamento ainda são terrivelmente reais, bem como o ataque dos cachorros no cemitério.
O filme de Donner tem um roteiro preciso (de autoria de David Seltzer, autor do livro no qual o filme se inspira), a maravilhosa fotografia de Gilbert Taylor, é incrivelmente bem editado por Stuart Baird, e a trilha sonora de Jerry Goldsmith (que ganhou um Oscar por ela) termina por coroar o filme.
Donner também reuniu um elenco de primeiríssima linha para seu filme, começando pelo lendário Gregory Peck como Robert Thorn, Lee Remick como sua esposa Katherine, e o pequeno Harvey Stephens como Damien, David Warner como o fotógrafo Jennings, Billie Whitelaw incrivelmente sinistra como a Sra. Baylock, Patrick Troughton (o segundo Doctor Who) como Padre Brennan, e Holly Palance (filha de Jack Palance) como a babá suicida.
Como outros filmes que lidam com o sobrenatural, A Profecia está envolto em estranhos eventos durante e depois de sua produção, incluindo acidentes, quedas de raios, acidentes de avião, mortes de alguns dos envolvidos ainda jovens, e até um atentado à bomba… Algumas pessoas dizem que esses eventos eram sinais de uma maldição, pois haveriam forças externas que não aprovavam a realização do filme. Mas enquanto uma grande parcela do público aceita que Damien é mesmo o Anti-Cristo, o próprio Richard Donner tem uma explicação diferente em mente.
Para Donner, ele não fez um filme sobre o Anti-Cristo. Para ele, Damien é uma criança normal que acabou sendo cercada de pessoas com más intenções, ou insanas, e acidentes. É um pensamento interessante para se manter na cabeça enquanto se assiste o filme, mas a ideia de que estamos vendo todo aquele horror do ponto de vista de pessoas insanas e maldosas é discutível, pois o filme parece confirmar as nossas suspeitas de que há uma força verdadeiramente maligna pairando sobre aquelas pessoas.
Que cada espectador tire suas próprias conclusões, mas o que fica conosco depois de vermos A Profecia, é que o filme resiste ao tempo incrivelmente bem, e que ele realmente merece seu eterno status como um dos grandes clássicos de terror do cinema.
Aqui há sabedoria. Aquele que tem entendimento, calcule o número da besta; porque é o número de um homem, e o seu número é seiscentos e sessenta e seis.
